sábado, 3 de dezembro de 2011

Células tronco-embrionárias e a geração de modelos animais para doenças genéticas humanas

Linhagens de células tronco embrionárias (células ES - do inglês embryonic stem) são células não diferenciadas,derivadas do botão embrionário de blastócistos, que têm como característica principal pluripotência (Evans e Kaufman, 1981; Martin, 1981) (Figura 1a, b). Ou seja, quando reintroduzidas em um blastocisto, as células ES possuem capacidade de retomar o desenvolvimento normal, colonizando diferentes tecidos do embrião, incluída a linhagem germinativa. Somente aquelas linhagens de células ES capazes de colonizar a linhagem germinativa de um embrião são consideradas altamente pluripotentes.
Quando cultivadas em condições específicas, as células ES podem ser mantidas em seu estado não diferenciado por múltiplas divisões celulares.
Por outro lado, essas células podem ser induzidas a iniciar um programa de diferenciação in vitro. Por exemplo, quando cultivadas em suspensão, as células ES formam espontaneamente agregados de células diferenciadas chamados .corpos embrióides.
(Ebs - do inglês, .embryoid bodies.), que simulam o desenvolvimento de um embrião pré-implantado. Através de análises morfológicas, imuno-histoquímicas e moleculares, encontrase uma grande variedade de linhagens embrionárias dentro dos EBs . hematopoética, neuronal, endotelial, cardíaca e muscular (Ling e Neben,1997) (Figura 1c, d).
Essas propriedades das células ESlevaram ao seu uso como modelo in vitro de desenvolvimento embrionário precoce. Nelas, podem ser estudados os mecanismos de diferenciação celular, o processo de iniciação da inativação do cromossomo X, e os efeitos de substâncias tóxicas e biologicamente ativas no desenvolvimento embrionário in vitro.
Linhagens de células tronco embrionárias (células ES - do inglês embryonic stem) são células não diferenciadas,derivadas do botão embrionário de blastócistos, que têm como característica principal pluripotência (Evans e Kaufman, 1981; Martin, 1981) (Figura 1a, b). Ou seja, quando reintroduzidas em um blastocisto, as células ES possuem capacidade de retomar o desenvolvimento normal, colonizando diferentes tecidos do embrião, incluída a linhagem germinativa. Somente aquelas linhagens de células ES capazes de colonizar a linhagem germinativa de um embrião são consideradas altamente pluripotentes.
Quando cultivadas em condições específicas, as células ES podem ser mantidas em seu estado não diferenciado por múltiplas divisões celulares.
Por outro lado, essas células podem ser induzidas a iniciar um programa de diferenciação in vitro. Por exemplo, quando cultivadas em suspensão, as células ES formam espontaneamente agregados de células diferenciadas chamados .corpos embrióides.
(Ebs - do inglês, .embryoid bodies.), que simulam o desenvolvimento de um embrião pré-implantado. Através de análises morfológicas, imuno-histoquímicas e moleculares, encontrase uma grande variedade de linhagens embrionárias dentro dos EBs . hematopoética, neuronal, endotelial, cardíaca e muscular (Ling e Neben,1997)

 (Figura 1c, d).
Essas propriedades das células ESlevaram ao seu uso como modelo in vitro de desenvolvimento embrionário precoce. Nelas, podem ser estudados os mecanismos de diferenciação celular, o processo de iniciação da inativação do cromossomo X, e os efeitos de substâncias tóxicas e biologicamente ativas no desenvolvimento embrionário in vitro.

Modelos animais para doenças genéticas humanas: Nos últimos anos, células ES vêem sendo utilizadas para produzir camundongos transgênicos e modelos animais de doenças genéticas humanas. Esses modelos animais são importantes ferramentas para o estudo das patologias associadas uma doença específica, além de servirem como um sistema no qual podem ser testadas, novas terapias. O recente desenvolvimento de técnicas de manipulação do genoma de camundongos faz do camundongo transgênico o melhor sistema disponível para o estudo de doenças genéticas humanas (Capecchi,1989). A propagação pela linhagem germinativa de DNA microinjetado no pronúcleo de ovos fertilizados de camundongos foi descrita, pela primeira vez, em 1980 (Gordon et al., 1980). Essa metodologia faz com que várias cópias do transgene injetado se integrem em tandem em um sítio aleatório no genoma e sejam transmitidas de forma Mendeliana. Desde então, a microinjeção pronuclear tem sido utilizada geração de modelos animais para várias doenças genéticas dominantes, incluindo osteogenesis imperfecta (Bonadio et al., 1990), através da inserção de um alelo mutado -transgene - no genoma do camundongo. No entanto, esse método apresenta algumas limitações. Por causa do sítio aleatório de integração do transgene, este poderá não estar sob o controle de todos os elementos em cis que controlam a expressão do gene endógeno. Assim, a expressão temporal e espacial do transgene não seguirá o padrão de expressão do gene endógeno. Além disso, a introdução de um terceiro alelo - o transgene mutante - cria uma situação artificial no que diz respeito à proporção entre os transcritos normais e os mutantes. Enquanto uma pessoa com uma doença genética dominante possui um alelo normal e um mutado, o camundongo transgênico possuirá dois alelos endógenos normais e diversas cópias do alelo mutante (transgene). Essa proporção pode ser crítica em doenças suscetíveis a efeitos de dosagem gênica.

Figura 2: Recombinação homóloga. Exons estão representados por retângulos, íntrons por linhas azuis. O vetor de recombinação homóloga possui duas regiões de homologia ao gene alvo (homol. 5. e 3.). O pareamento dessas regiões com as regiões homólogas do lócus endógeno permite que duas recombinações recíprocas levem à substituição de um exon (cinza) pela cassete de expressão neo. A detecção do evento de recombinação homóloga é feita por Southernblot de DNA genômico das colônias de células ES. Uma sonda externa à região de homologia (barra verde) é utilizada em DNA digerido com a enzima de restrição EcoRI (E). A substituição do exon por neo introduz um sítio de EcoRI no locus, gerando uma banda menor referente ao alelo mutado. Uma colônia recombinante é detectada (*)

Manipulação do genoma do camundongo através de células ES:

Recentemente, a combinação do cultivo de células ES e da recombinação homóloga resultou na criação de um método alternativo e mais preciso para manipular o genoma do camundongo.
As células ES podem ser modificadas geneticamente, em cultura, através da recombinação homóloga, processo que promove a substituição do alelo normal de um gene específico pela versão mutada do mesmo gene, construída no laboratório (Figura 2). Dessa forma, são obtidas linhagens de células ES geneticamente modificadas. Essas são agregadas a mórulas de camundongos in vitro e, assim, incorporadas ao embrião (Figura3). Os camundongos resultantes serão quimeras formadas de células do embrião recipiente e das células ES recombinantes. Se essas últimas colonizarem a linhagem germinativa dos animais quiméricos, a mutação será então transmitida às novas gerações de camundongos (Figura 4). A capacidade de modificar regiões específicas do genoma do camundongo por recombinação homóloga permite a criação em potencial de camundongos com qualquer genótipo desejado.O vetor mais comumente usado para recombinação homóloga é o chamado vetor de substituição de seqüência, que contém o gene de resistência à neomicina (neo) flanqueado por seqüências homólogas ao gene alvo (Capecchi,1989) (Figura 2). Através de dois eventos de recombinação recíprocos, esse tipo de vetor media a substituição das seqüências endógenas de DNA pelas seqüências exógenas contidas no vetor (Figura 2). Assim, são criadas mutações em loci específicos do genoma do camundongo.

 Mutação condicional -sistema

CRE-loxP: Outro tipo de vetor desenvolvido ainda mais recentemente utiliza o sistema de recombinação em bactérias CRE-loxP (Chambers, 1994). Nesse microorganismo, duas seqüências específicas de 38 pb, denominadas loxP, são reconhecidas pela proteína CRE do bacteriófago P1. Por meio da recombinação entre duas sequências loxP, a proteína CRE promove a remoção da seqüência de DNA dentre estas sequências,resultando em uma deleção. O sistema CRE-loxP pode ser usado junto com a recombinação homóloga para se criarem mutações no genoma do camundongo (Chambers,1994). Nesse caso, o vetor de recombinação contém, além da cassete de expressão neo, duas seqüências loxP delimitando a região a ser deletada (Figura 5). O primeiro evento de recombinação homóloga introduzirá as seqüências loxP nos sítios específicos do gene alvo. Um segundo evento de recombinação, mediado pela proteína CRE, levará à deleção a região do alelo recombinante flanqueada pelas seqüências loxP. A recombinação mediada por CRE pode ser feita ainda nas células ES em cultura, através da expressão transiente de CRE que há nelas. Uma vantagem desse sistema é que, com ele, o geneneo não fica inserido no gene alvo. A presença de neo em íntrons de genes pode introduzir seqüências que atrapalhem o splicing correto do gene alvo, ou que, de alguma ou outra forma, diminuam o nível de expressão do alelo mutado ou de genes na sua proximidade. Esse tipo de efeito já foi descrito em alguns genes (Pereira et al., 1997; Pereira et al., 1999). Alternativamente, o segundo evento de recombinação pode ser realizado in vivo. Dessa forma, controlando-se o padrão temporal e o espacial da expressão de CRE, podese controlar o período de desenvolvimento e os tecidos onde a mutação será induzida, o que chamamos de mutação condicional. Esse sistema é utilizado quando se deseja estudar o efeito de mutações que são letais quando presentes desde a concepção ou em todos os tecidos do animal. A combinação dessas estratégias de manipulação do genoma do camundongo, quando realizadas em células ES, permitem a criação de linhagens de animais mutantes.


Estabelecimento de novas linhagens de células ES:

Um parâmetro crítico para uso de células ES na geração de modelos animais é a sua pluripotência, que pode ser perdida durante o cultivo prolongado. O uso de linhagens envelhecidas dessas células pode levar a uma baixa freqüência de recombinação homóloga e à não colonização da linhagem germinativa de animais quiméricos (Nagy e Rossant, 1993).
Células ES murinas comerciais sãoUm parâmetro crítico para uso de células ES na geração de modelos animais é a sua pluripotência, que pode ser perdida durante o cultivo prolongado. O uso de linhagens envelhecidas dessas células pode levar a uma baixa freqüência de recombinação homóloga e à não colonização da linhagem germinativa de animais quiméricos (Nagy e Rossant, 1993). Células ES murinas comerciais são caras e podem ser usadas durante um tempo limitado, por já estarem em cultivo há a um período relativamente longo. Assim, para a produção a longo prazo de animais transgênicos é fundamental a obtenção de novas linhagens de células ES. Nós estabelecemos três novas linhagens de células
ES a partir do botão embrionário de blastocistos de camundongos 129/Sv (pelagem agouti): USP-1, USP-2 e USP-3. Sua pluripotência foi avaliada in vitro através de testes convencionais.Eles incluíram a cariotipagem das células, a atividade de fosfatase alcalina e a capacidade das células de formarem EBs complexos. Essas três linhagens apresentaram cariótipo 40, XY normal,alta atividade de fosfatase alcalina, e formaram EBs complexos, com diversos tipos celulares e cardiomiócitos pulsantes, demonstrando um alto grau de diferenciação (Figuras 1 e 6). Estas características indicam um alto nível de pluripotência das novas linhagens de células ES USP-1, USP-2 e USP-3. Foi avaliada a capacidade da linhagem
USP-1 de popular a linhagem germinativa de animais quiméricos. Através da agregação e do cocultivo das células USP-1 com mórulas de animais CD-1 (pelagem branca), foram gerados animais quiméricos (Figura 3). O nível de quimerismo, estimado a partir da coloração da pelagem dos animais, variou de 0 a 100%. Os animais mais compostos de células derivadas das células USP-1, de pelagem predominantemente agouti, foram cruzados com fêmeas CD-1 Como a pelagem agouti é dominante sobre a pelagem branca dos animais CD-1, a pelagem agouti da ninhada resultante demonstrou a colonização da linhagem germinativa dos animais quiméricos pela linhagem de células ES USP-1 (Figura 4). Essa linhagem está, no momento, sendo utilizada para gerar um modelo animal para a síndrome de Marfan.

Figura 3: Sistema de recombinação CREloxP. Seqüências loxP estão representadas por triângulos verdes. O primeiro evento de recombinação homóloga introduz os sítios loxP entre o exon a ser deletado. Em um segundo evento, a expressão da proteína CRE irá mediara recombinação entre os dois sítios loxP, deletando a seqüência entre eles. A expressão de CRE pode ser controlada de forma que induza a recombinação somente em tecidos ou estágios de desenvolvimento específicos do camundongo

Geração de um modelo animal para a síndrome de Marfan:

A síndrome de Marfan (SMF) é a mais comum das doenças genéticas tecido conjuntivo. Herdada de forma autossômica dominante, essa síndrome tem uma incidência de, aproximadamente, 1 em 10.000 indivíduos (McKusick, 1955). O fenótipoda SMF é 100% penetrante, e suas manifestações clínicas afetam primariamente três áreas: esquelética (crescimento excessivo dos membros, hiperextensibilidade articular, escoliose e deformidades na região anterior do tórax); ocular (ectopia lentis, miopia e deslocamento da retina); e cardiovascular (dilatação da raíz da aorta, dissecção da aorta, prolapso da válvula mitral e regurgitação mitral). A sobrevida de pacientes com a
SMF é de, aproximadamente, dois terços do normal - 40 anos na média.
Em 90% dos casos, a morte é causada por falha cardiovascular (McKusick,1955). O diagnóstico precoce seguido de intervenção médica leva a um prolongamento da sobrevida.
A SMF é causada por mutações no gene FBN1. Esse gene codifica a fibrilina-1, componente estrutural mais abundante das microfibras na matriz extracelular. As microfibras estão largamente distribuídas pelo organismo e se encontram associadas à elastina nas fibras elásticas. Acredita-se que mutações no gene FBN1 geram o fenótipo da SMF através do modelo dominante-negativo (Dietz et al., 1993). Segundo esse modelo, proteínas mutantes interagem com as fibrilinas normais, incorporando-se às microfibras e perturbando, assim, sua organização e integridade. Ainda de acordo com esse modelo, os indivíduos portadores de um alelo mutante com uma expressão de fibrilina-1 mais baixa podem apresentar um fenótipo menos severo da doença devido à prevalência de fibrilinas normais produzidas a partir do alelo normal (Pereira et al., 1997).
A identificação de uma proteína altamente homóloga à fibrilina-1, denominada fibrilina-2, levou à classificação destas como uma nova família de proteínas extracelulares: fibrilina 1, produto do gene FBN1; e fibrilina- 2, produto do gene FBN2. Estudos dos padrões de expressão desses dois genes durante a embriogenia mostram que estes são expressos de maneiras diferentes, tanto em termos de distribuição em tecidos quanto de estágios de desenvolvimento (Zhang et al., 1995). Em geral, mRNAs da fibrilina-2 aparecem mais cedo e se acumulam por um período mais curto de tempo do que os da fibrilina-1. Síntese de fibrilina-1 está relacionada com o período mais tardio da morfogênese e com o aparecimento de estruturas mais definidas.
Por outro lado, a síntese da fibrilina- 2 coincide com etapas iniciais da morfogenese, em particular com o começo da elastogenese. Logo, as microfibras morfologicamente homogêneas são, na verdade, heterogêneas, no que diz respeito à sua composição por diferentes fibrilinas. Com base nesses resultados, foi proposto que as fibrilinas têm funções distintas, porém relacionadas, na fisiologia das microfibras. Segundo essa teoria, a fibrilina-1 provê principalmente suporte e força, enquanto a fibrilina- 2 tem uma função principal na regulação do processo inicial da formação da fibra elástica (Zhang et al.,1995).
Para estudarmos a função específica de cada fibrilina na formação da fibra elástica e na manutenção da integridade de diversos tecidos, e os mecanismos de patogênese envolvidos na SMF, criamos camundongos com diferentes mutações no gene Fbn1, homólogo ao gene FBN1 humano, através da recombinação homóloga em células ES (Figura 7).

Figura 4: Geração de animais quiméricos. Células ES derivadas de um animal agouti são cocultivadas com mórulas de um animal de pelagem branca. As células se integram ao embrião, e os animais resultantes são quimeras, compostas de células derivadas do embrião receptor e de células derivadas das células ES

Linhagem mgD:

A primeira linhagem (mgDD) possui uma substituição dos exons 19-24 do gene Fbn1 por um cassete de expressão do gene da neomicina (neo) (Pereira et al., 1997) (Figura 7).
Esta mutação levou à produção de monômeros de fibrilina-1 com uma deleção interna, porém, devido à presença de neo no íntron 18, com um nível de expressão 10 vezes menor do que o do alelo normal. Assim, a mutação mgD representa uma combinação de uma mutação estrutural e hipomórfica. Em acordo com o modelo dominante-negativo, animais heterozigotos não apresentam nenhum fenótipo, provavelmente devido ao excesso de fibrilinas normais em relação à forma mutante. Por outro lado, animais homozigotos mgD/mgD morrem de complicações cardiovasculares durante as duas primeiras semanas de vida pós-natal. A histopatologia da parede vascular desses animais é extremamente similar àquela de pacientes com SMF, com a mesma fragmentação das fibras elásticas. Mesmo assim, em tecidos não afetados, as fibras elásticas são morfologicamente normais.
A conclusão mais importante desse estudo foi a de que, mesmo na ausência de fibrilina-1 normal, há formação da fibra elástica (Pereira ET al., 1997). Assim, confirmamos a hipótese de que na verdade, a fibrilina-2 expressa mais cedo, durante o desenvolvimento embrionário, dirige o depósito de elastina na formação da fibra elástica, e que a fibrilina 1 teria um papel posterior na manutenção da integridade e no suporte dessas fibras.


Figura 5: População da linhagem germinativa das quimeras pelas células ES. Animais quiméricos cruzados com fêmeas CD-1 (pelagem branca) deram origem a uma ninhada de animais de pelagem agouti. Isso indica que a linhagem germinativa das quimeras foi populada pelas células ES e, assim, o genótipo dessas células foi transmitido à prole


Linhagem mgR:

O segundo alelo Fbn1 mutante (mgR) foi criado através da inserção do gene neo entre os exons 18 e 19 (Pereira et al., 1999) (Figura 7). Apesar dessa inserção não causar nenhuma perda de seqüência do gene Fbn1, ela leva a uma redução de 5 vezes na expressão do alelo mutado. Assim, o alelo mgR consiste emuma mutação hipomórfica que produz 20% de moléculas de fibrilina- 1 normais. Como esperado, animais heterzigotos mgR/+ são normais. Em contraste, camundongos homozigotos mgR/mgR desenvolvem cifose severa e morrem abruptamente de falha do sistema cardiovascular até os três meses de idade. Esses animais mutantes também apresentam hérnia de diafragma e ossos alongados, similar a pacientes com SMF. A análise histopatológica dos animais mgR/mgR revelou uma participação importante da resposta inflamatória na progressão das manifestações vasculares da mutação (Pereira et al., 1999). Assim, esses estudos sugerem que a inibição dessa resposta em indivíduos com a SMF pode retardar as manifestações da doença no sistema cardiovascular.

Figura 7: Mutações no gene Fbn1 geradas por recombinação homóloga em células ES. A proteína fibrilina está esquematizada. Regiões em cinza correspondem àquelas modificadas nos alelos mutantes. Exons 1, 17 a 28 do gene selvagem (Fbn1wt) estão representados. O alelo mgD consiste na substituição dos exons 18 a 24 pela cassete de expressão neo, o que leva à produção de monômeros de fibrilina com uma deleção interna, porém em baixa quantidade. O alelo mgR é uma inserção dessa cassete no íntron 18 do gene Fbn1, resultando na baixa expressão de fibrilina normal a partir desse alelo. O alelo
Fbn10 é um alelo nulo do gene Fbn1. Nele, parte do exon 1, incluído o códon de início de tradução (ATG) e a seqüência codificadora do peptídeo sinal, foi substituída pelo gene repórter da fosfatase alcalina humana (hFA) e a cassete de expressão neo. O gene hFA fica colocado sob controle do promotor do gene Fbn1 (seta)


Fbn10:

Finalmente, uma terceira mutação no gene Fbn1 foi gerada em nosso laboratório nas células ES USP-1: um alelo nulo (Fbn10) (Figura 7). Para isso, o vetor de recombinação homóloga foi construído de maneira que promovesse uma substitui
ção de parte do exon 1 do gene Fbn1 pelo gene repórter da fosfatase alcalina e pela cassete de expressão neo. Espera-se que a deleção do códon de iniciação de tradução e da seqüência codificante do peptídeo sinal, presentes no exon 1, irá inviabilizar a tradução correta da fibrilina-1. Além disso, a presença do gene repórter da fosfatase alcalina sob controle do promotor endógeno do gene Fbn1 facilitará a análise da expressão temporal e espacial desse gene em animais heterozigotos.

Perspectivas:
 
Nos últimos 10 anos, células ES de camundongo tornaram-se um poderoso instrumento de pesquisa. Nelas são estudados os mecanismos de diferenciação celular e os eventos iniciais do desenvolvimento embrionário, reproduzidos por essas células diferenciadas in vitro.
As linhagens estabelecidas em nosso laboratório estão sendo utilizadas também para o estudo in vitro do efeito de novas substâncias nesse estágio de desenvolvimento.
Além disso, a capacidade de células ES de se diferenciarem em qualquer tipo de tecido representa um enorme potencial de aplicação médica. Sob condições específicas, induzidas a se diferenciarem in vitro, em um tipo celular determinado,elas poderão, no futuro, ser uma fonte ilimitada de tecidos para transplante no tratamento de doenças. Um passo importante nessa direção foi o estabelecimento de linhagens de células ES humanas (Thomson et al., 1998). Agora, experimentos realizados com células ES murinas poderão ser repetidos e adaptados às linhagens humanas. Finalmente, estamos vivendo o momento histórico do final do seqüenciamento do genoma humano. A análise da primeira versão completa do genoma humano identificou, aproximadamente, 30.000 genes (Lander et al., 2001). Desses,uma grande proporção não tem função conhecida. O grande desafio da era pós-genoma será determinar a função gênica. Uma estratégia poderosa para o estudo de função gênica in vivo é a geração de mutantes. No caso de genes humanos, modelos em camundongos são utilizados devido à nossa capacidade de manipulação do genoma desse animal através da recombinação homóloga em células ES. A implementação desse instrumental de pesquisa no Brasil permitirá seu uso pelos diversos grupos envolvidos no estudo de função gênica.
Figura 6: Caracterização da linhagem USP-1 de células ES. (A) Cariótipo. (B) Análise de atividade de fosfatase alcalina (FA). Grumos de células escuras indicam alta atividade de FA
                                 
KERKIS, Alexandre; SOUKOIAN, Marina Et AL. Células tronco Embrionárias . Ciência & Desenvolvimento - nº 20 - maio/junho 2001.



Células-tronco embrionárias específicas para o paciente poderiam resolver o problema da rejeição imunológica

Há muitos problemas para serem resolvidos antes que as células ES possam ser utilizadas de forma eficaz para o reparo de tecido em pacientes humanos. Um dos mais graves, que também limita o uso de células-tronco adultas, é a rejeição imunológica. Se as células derivadas de células ES de um determinado genótipo são enxertadas em um indivíduo geneticamente diferente, as células enxertadas provavelmente são rejeitadas pelo sistema imune como estranhas.
Formas de resolver este problema usando fármacos imunossupressores têm sido desenvolvidas para o transplante de órgãos, como rins e coração, mas estão longe da perfeição.
Para evitar completamente os problemas imunológicos, é necessário enxertar células que são geneticamente idênticas àquelas do hospedeiro. Então, como podem ser produzidas células ES por encomenda, com o mesmo genótipo de determinado paciente humano adulto que necessita de um transplante? Como discutido no Capítulo 8, um caminho possível é via transferência nuclear de células somáticas. Neste método – ainda não realizado com células humanas, apesar de algumas falsas esperanças – o núcleo seria retirado de uma célula somática do paciente e injetado em um oócito fornecido por uma doadora (em geral, uma mulher que não seja paciente), substituindo o núcleo original do oócito. A partir deste oócito híbrido, um blastocisto poderia ser obtido, e a partir do blastocisto, células ES. Estas células e sua progênie conteriam o genoma nuclear do paciente e, a princípio, deveriam ser transplantadas sem risco de rejeição imunológica. Contudo, o procedimento completo envolve muitas dificuldades e está muito longe do estágio em que poderia ser utilizado para tratamento.
Seria preferível se pudéssemos coletar células de um paciente adulto e convertê-las a uma característica semelhante à de células ES, de forma mais direta, por manipulação da expressão gênica. Uma primeira etapa ao longo deste caminho é identificar os determinantes-
-chave da característica de células ES – as principais proteínas reguladoras que especificam esta característica, se existirem. Comparações bioquímicas de células ES com outros tipos celulares sugerem um grupo de candidatos para este papel. Estes candidatos podem ser testados pela introdução de construções apropriadas de expressão de DNA em células diferenciadas que podem se desenvolver em cultivo, como fibroblastos. Uma combinação destes
transgenes, que codificam para um grupo de quatro proteínas reguladoras de genes (Oct3/4,Sox2, Myc e Klf4), na verdade parece ser capaz de converter fibroblastos em células com características semelhantes às de células ES, incluindo a capacidade de se diferenciar de diversas maneiras. A taxa de conversão é baixa – apenas uma proporção pequena de fibroblastos contendo os transgenes sofre a modificação – e as células convertidas são diferentes das células ES verdadeiras em aspectos importantes. Contudo, estes experimentos mostram um caminho possível para a produção de células com versatilidade semelhante às células ES a partir de células somáticas adultas.

Alberts, Johnson, Lewis, Raff, Roberts & Walter. Biologia Molecular da Célula. Artemed, 2010

Cientistas desenvolvem técnica que pode criar células-tronco personalizadas

Descoberta abre caminho para a produção de células usando material genético do próprio doente, evitando rejeições

05 de outubro de 2011 | 22h 03

Uma equipe de cientistas de Nova York afirmou nesta quarta-feira que estão mais perto de conseguirem criar a chamada célula-tronco personalizada.
A técnica envolve pegar um óvulo humano e combiná-lo com uma célula de outra pessoa.
Segundo os pesquisadores, os resultados podem ser usados para tratar várias doenças, já que seria possível produzir, de maneira personalizada para cada paciente,células saudáveis para substituir as doentes.
Em um artigo para a revista científica Nature, a equipe Fundação de Células-Tronca do Nova York disse ter usado uma tecnologia de clone (chamada transferência de núcleos de célula somática) para criar células-tronco embrionária para combinar com o DNA específico de cada pessoa.
Potencial
As células-tronco têm um grande potencial na medicina, à medida que podem ser desenvolvidas em qualquer outro tipo de célula no corpo.
Ao se criar células do coração, por exemplo, talvez seja possível reparar os danos causados por um ataque cardíaco.
Já há alguns testes clínicos em curso. O primeiro feito com células-tronco embrionárias da Europa está sendo feito em Londres e é relacionado a um tratamento para a perda progressiva da visão.
O teste, porém, não usa as próprias células dos pacientes e por isso é necessário o uso de imunossupressores para evitar o risco de rejeição. E é por isso que o teste da equipe americana é tão importante.
Interrogação
O pesquisador Dieter Egli, do laboratório da Fundação de Células-Tronca de Nova York, afirma que havia até então um grande ponto de interrogação sobre a possibilidade de a técnica do clone ser usada em seres humanos.
"Outras equipes já haviam tentado, mas falharam", disse, explicando que seu grupo também não conseguiu ser bem-sucedido ao usar as técnicas tradicionais.
Quando eles removeram o material genético de um óvulo e o substituíram com cromossomos de uma célula epitelial, o óvulo se dividiu, mas não passou do estágio de 6 a 12 células.
No entanto, quando eles deixaram o material genético no próprio óvulo e adicionaram os cromossomos epiteliais, o óvulo se desenvolveu até o estágio do blastocisto, que pode contar até 100 células e é usado como fonte para células-tronco embrionárias.
"As células produzidas por nossa equipe ainda não são para uso terapêutico. Ainda há muito a ser feito", afirmou Egli à BBC. "Vemos isso como um passo adiante na estrada, porque agora sabemos que óvulos podem transformar células adultas especializadas, como células da pele, em células-tronco." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

٠٠٠ Obtenção e Cultivo das Células-tronco ٠٠٠

        
        As amostras de medula óssea são obtidas a partir de fêmures de ratos adultos (250 g) da linhagem Wistar. Para cada período de cultivo (cultura nova e antiga) foi utilizado um rato. Os animais são sacrificados por overdose de anestésico (tiopental sódico - Cristália; 3,5 mL/animal ) e têm os dois fêmures dissecados, eliminando os tecidos muscular e conjuntivo associados. Em seguida são feitos dois cortes na região das epífises, removendo-as, possibilitando a entrada da agulha na cavidade medular, onde são injetados 10 mL de DMEM (Dulbeco´s Modified Eagle Medium - GibcoBRL) sem soro.
       
        O material obtido é ressuspenso e centrifugado a 1.500 rpm durante 10 minutos. O pellet é ressuspenso em DMEM sem soro, num volume de cerca de 4 mL e transferido para um outro tubo de 15 mL contendo 4 mL de Ficoll-Paque (densidade 1.077 g/mL - Amersham Biosciences) (diluição Ficoll:meio de 1:1), evitando que as duas fases líquidas se misturem. Centrifuga-se a 2.000 rpm durante 30 minutos à temperatura ambiente. A seguir, coleta-se o anel de células na interface Ficoll-células e as ressuspende em solução BSS respeitando a diluição 1:5 (células:BSS). Centrifuga-se novamente a 1.500 rpm durante 10 minutos à temperatura ambiente, desprezando o sobrenadante. Esse procedimento deve ser repetido mais duas vezes a fim de retirar o excesso de Ficoll, que é tóxico para as células.
Após a última lavagem, o pellet é ressuspenso em 1 mL de DMEM com 20% de soro fetal bovino (SFB – StemCell Technology) e então as células são contadas, utilizando Trypan Blue (GibcoBRL) para acessar a viabilidade das células extraídas. Por final as células são plaqueadas em frascos canted neck com filtro (Corning), de 25 cm2, com 5 mL de meio de cultura composto por DMEM 20% SFB acrescido de 1% de penicilina e estreptomicina (StemCell Technology) e de 4% de L-glutamina (GibcoBRL).
São plaqueadas 1x106 células na cultura mais antiga e 3x106 células na cultura considerada nova. As células foram mantidas em estufa a 37 oC em 5% de COe umidade de 95%. O meio de cultura é trocado a cada 3 ou 4 dias, retirando-se 4 mL do meio acondicionado e substituindo-se por 4 mL de meio fresco.
Quando as células em cultivo alcançavam confluência de aproximadamente 80%, era feita a passagem. Removendo o meio de cultura do frasco, as células mesenquimais aderentes permanecem aderidas ao frasco. Essas células devem ser lavadas com DMEM sem soro para remover o SFB residual e depois incubadas com 1 mL de tripsina e EDTA (StemCell Technology), a 37 ºC até se destacarem (cerca de 4 minutos). Às células já soltas, adiciona-se meio de cultura com 20% de SFB para neutralizar a ação da tripsina. As células são centrifugadas a 1200 rpm por 5 minutos, então o sobrenadante é removido e o pellet é ressuspenso em meio de cultura completo (DMEM + 20% SFB). Essas células podem agora ser divididas em novos frascos de 25 cm2 para cultura. A cultura de células antiga sofreu 4 passagens, sendo que na primeira a concentração foi de 1:4, na segunda, terceira e quarta passagens foi de 1:10. Já a cultura nova permaneceu na passagem 0 até a realização dos experimentos.

          Indução de diferenciação - O protocolo de indução da diferenciação das células-tronco mesenquimais em células neurais consiste nas seguintes etapas:
         Pré-indução: o meio de cultura é substituído pelo meio pré-indutor, composto por DMEM / 20% SFB e 1 mM de b-mercaptoetanol (Sigma), sendo as células incubadas nessa solução durante 24h.
        Indução: posteriormente recebem tratamento com os indutores neurais butil-hidroxi-anizol (BHA / butylated hydroxyanisole - Sigma) (200 mM) e dimetil-sulfóxido (DMSO - Sigma) (2%) em DMEM. A solução de BHA deve ser feita em álcool 70%.  Para posterior realização da imunocitoquímica foram adotados dois intervalos de tempo para a indução neural: 24 e 72 horas, após os quais as células são fixadas.

        

    As células-tronco neurais são obtidas a partir de encéfalo de embrião E14 e da zona subventricular (SVZ) de adulto, ambos de camundongos da linhagem balb/c. Os animais utilizados são sacrificados por deslocamento cervical.
    Tanto os embriões de camundongo E14 quanto o encéfalo de camundongo adulto são depositados em uma placa de Petri contendo PBS com 2% de glicose. A dissecção é feita em uma lupa e o material obtido é transferido para um tubo adicionando-se em seguida 5 mL do meio de cultura suplementado. A seguir o tecido é triturado passando pela pipeta com ponteira de 1.000 mL seguido pela ponteira de 200 mL, até obter-se uma suspensão de células únicas. As células obtidas são quantificadas e a viabilidade avaliada usando Trypan Blue (GibcoBRL).
    As células são plaqueadas em frascos T-25 canted neck (Corning) na densidade de 2x105células por mL em 10 mL de meio de cultura completo. O meio de cultura para as células tronco neurais é composto por 10% de NeuroCultTM NSC Proliferation Supplements (StemCell Technology) e 90% de NeuroCultTM NSC Basal Medium (StemCell Technologies), específicos para murinos. Além disso também deve ser adicionado hEGF (20 ng/mL), FGF-2 (20 ng/mL) e heparina (5 mg/mL). As neuroesferas são centrifugadas a 1.200 rpm por 5 minutos e metade do meio de cultura de cada frasco é trocado a cada 3 ou 4 dias, substituindo por meio de cultura fresco. As neuroesferas formadas são mantidas numa estufa a 37 ºC, com controle de umidade (maior que 95%) e da proporção de CO (5%) no ar.

        Indução de diferenciação - Primeiramente as neuroesferas devem ser dissociadas mecanicamente – passando-se pelas ponteiras de 1.000 mL e de 200 mL – e plaqueadas em lamínulas de vidro revestidas com poli-lisina e laminina, que promovem a adesão das células. Após terem aderido, permanecem em poços (Multiwell de 12) contendo 1 mL de meio de cultura composto por NeuroCultTM NSC Basal Medium, NeuroCultTM NSC Proliferation Supplements e 2% de soro fetal bovino (SFB) (StemCell Technology), sem fatores de crescimento. As células são mantidas nesse meio de cultura em estufa (37 ºC, 5% CO2, umidade > 95%) por 1 dia, quando inicia-se o tratamento com o meio de indução de diferenciação.
Cada poço recebe uma combinação específica de compostos, adicionados ao meio de cultivo descrito acima (volume final = 1 mL), que induzem diferenciação em determinado tipo celular, como segue adiante:
a) Diferenciação neuronal: adiciona-se ácido-retinóico all-trans (RA) (Sigma) e forscolina (Fsk) (Sigma) em concentração final de 0,1 mM e 5 mM, respectivamente.
b) Diferenciação em astrócito: adiciona-se 50 ng/mL de proteína morfogenética de osso-2 (BMP-2 - R&D System), 50 ng/mL de fator inibitório de leucemia (LIF - Sigma) e 1% de soro fetal bovino (StemCell Technology).
c) Diferenciação em oligodendrócito: adiciona-se 500 ng/mL de IGF-1 (insulin-like growth factor-1 - R&D System).
As células permanecem no meio indutor de diferenciação por 5 dias, que é substituído no terceiro dia.



Biologia molecular da célula é foco de estudo de grupo do ICB-USP

O objetivo é interferir no programa de vida das células, o que pode ser um novo meio de enfrentar tumores cancerígenos

O grupo de Biologia Molecular da Célula, vinculado ao Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, se dedica à pesquisa interdisciplinar da genética para desenvolver medicamentos e vacinas, a partir do estudo das estruturas internas das células. O foco é interferir no programa de vida das células, o que representa uma forma relativamente nova de enfrentar, por exemplo, tumores cancerígenos.
Sete docentes de diferentes laboratórios atuam no grupo. A organização do coletivo ocorreu a partir da convocação para um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em 2007, ampliando as possibilidades de troca de conhecimentos e complementação de pesquisa entre laboratórios do Instituto.
Segundo a professora Eugênia Costanzi Strauss, a pesquisa de células-tronco de tecidos musculares, neurológicos e da retina estão entre temas dos pesquisadores. Isso significa a busca de formas de se reprogramar células, interferindo nas moléculas do genoma e nas proteínas que o influenciam. "Esse tipo de estudo é que permite, por exemplo, reprogramar uma célula adulta, de um determinado tecido, para funcionar como célula adulta de outro", explica.
Transformar um tecido em outro pode ser feito por meio de farmacos ou até com " ajuda" de vetores virais, separados em laboratório, como no caso da pesquisa da professora Eugênia. São desenvolvidos vírus capazes de produzir esse tipo de alteração, com aplicações possível no tratamento de tumores cancerígenos.
"O ciclo celular é visto como um sistema que não só se reproduz, mas tem uma programação também para envelhecer e para morrer", relata. "Uma célula tumoral é aquela que não segue o padrão do ciclo de vida e se 'recusa' a envelhecer. A terapia gênica busca devolver tanto essa capacidade quanto a de morrer", compara.
A pesquisadora explica que os tecidos humanos têm uma constante renovação, com perdas e reposição diária de tecidos. "As células são estudadas no contexto do organismo e não isolada na placa de petri", diferencia Costanzi. "O grupo de pesquisa permite, por exemplo, que eu faça a análise de ciclo celular de modo mais completo, já que há professores que estudam tecidos específicos", conta.
Da bancada ao leito
Um dos objetivos do grupo é a produção de medicamentos e vacinas que possam ser usados por pacientes de hospitais. Isso demanda diversos testes em culturas de células, animais e, depois, em pessoas que aceitem participar da pesquisa por meio de protocolos clínicos, usados no desenvolvimento de fármacos convencionais. A maior parte dos casos ocorre em hospitais- escola ligados à Universidade, sempre com autorização de conselhos competentes.
A professora Eugênia Costanzi aponta que esse tipo de iniciativa, com desenvolvimento de vetores virais totalmente novos, permite o encaminhamento de pedidos de patente. Esse cenário coloca a USP em posição de destaque na área. Porém, há muitos desafios para o avanço desse tipo de ligação entre ciência básica e a clínica engajada.
"Falta à universidade um laboratório de tradução de conhecimento, com profissionais, que não sejam alunos de pós- graduação", sustenta. A diferença, na visão da pesquisadora, seria uma lógica de funcionamento semelhante à da empresa do setor farmacêutico, que permitiria o aprofundamento dos conhecimentos.
A orientação do trabalho dos pesquisadores acadêmicos é a da publicação, já que há inclusive demanda de um mínimo de textos editados por revistas científicas. Uma vez tornado pública, a descoberta ou inovação não pode mais ser objeto de patente.
Além disso, há outros entraves no Brasil para acelerar o desenvolvimento de protocolos clínicos de terapia gênica. A professora aponta a falta de equipes treinadas com conhecimentos de laboratórios - "que tenham colocado o umbigo no balcão", define - para aplicação dessas técnicas em fase de teste. Essa preparação envolveria médicos, enfermeiros e até psicólogos e assistentes sociais que acompanham os pacientes.
Outro desafio é a falta de investimento da industria farmacêutica no Brasil. Na visão da pesquisadora, a criação, nos últimos anos, de redes de terapia gênica entre centros de pesquisa e de institutos dedicados ao tema podem ser um caminho para contribuir para fomentar a produção de conhecimento na área.